Aqui quem vos escreve é Thais Braga, publicitária, que adora escrever, se comunicar e aprender coisas novas. Porém, quando era criança fui diagnosticada com dislexia. Confundia letras e não conseguia elaborar um texto simples ou contas básicas.
Eu não vou conseguir passar por esse texto o quanto foi difícil superar essas dificuldades, que na realidade, até hoje me amedrontam. Atualmente me afetam mais em nível psicológico, entretanto, ainda estão presentes.
Crescer em um sistema educacional que usa uma única metodologia para todos os tipos de alunos é desumano. Você não se enquadra naquele perfil e é taxado de devagar, de deficiente, de fraco e poderia citar inúmeros outros “adjetivos” que destroem qualquer auto estima em formação.
Em todos os anos na escola passava raspando em matemática. Não havia interesse da minha parte em querer aprender porque eu não conseguia entender da forma que estavam explicando. Meu cérebro não funcionava (funciona) da maneira padrão. Teria sido menos traumático se o método fosse mais flexível e aplicável a nossa realidade. Contudo, mais uma vez, o sistema me massacrava, me fazia acreditar que eu não era boa o suficiente e a cada nota vermelha a sensação de que eu nunca iria aprender aquilo se tornava mais certa dentro de mim.
Quando entrei na faculdade de comunicação meu mundo mudou! Só tirava notas boas e era uma aluna aplicada! Aí você pensa: “Claro, Thais! Em comunicação não tem matemática, né?”
Errado! Tem sim! Tive vários períodos de estatística e consegui tirar boas notas. Sabe por quê? Porque aquilo que me foi ensinado tinha um propósito, eu podia aplicar na minha vida. A mesma coisa na pós-graduação, também tive aulas de estatística e o professor abordava o assunto de forma muito interessante, falava do mercado de bolsa de valores e dava aos alunos a chance de incluir o conteúdo em suas rotinas.
Escrevi tudo isso pra chegar nesse ponto. Semana passada o governo criou uma medida provisória para “flexibilizar” o ensino médio no Brasil. Dizia assim no jornal Zero Hora:
“Definida por meio de medida provisória (MP), a reformulação será enviada ao Congresso Nacional, que ainda poderá alterar o texto. A reformulação por meio de MP se justificaria, segundo o ministro da Educação, Mendonça Filho, porque o Brasil acumula índices ruins na educação: o Ideb está estagnado desde 2011 e desempenho em português e matemática dos alunos é menor hoje do que em 1997.
— A pressa (se justifica porque) temos crianças e jovens relegados a uma educação pública de baixíssima qualidade, comprometendo seu futuro.”
Então quer dizer que já perceberam que o método não tá funcionando, né?
Então quer dizer que essa reformulação visa melhorar o interesse dos alunos?
Gente não vou me aprofundar no tópico específico das matérias, só vou falar que tive filosofia, sociologia, artes e educação física na escola. Sinceramente não levava muito a sério no início, mas nos últimos anos é que comecei a entender a importância delas. Atualmente, são elas as grandes responsáveis pela formação do senso crítico, do questionamento, da saúde, da cultura…mas enfim, eu acho que está tudo errado.A meu ver tem que rever tudo: matérias, horários, metodologia, aplicação de aulas, conteúdo, provas.
Eu queria que minha filha fosse para uma escola que realmente a ensinasse sobre a vida e sobre como aplicar matemática, física, química, geografia, português no seu dia-a-dia. Gostaria que ela aprendesse sobre leis, finanças, alimentação, ecologia, cultura, arte e história mundial. Desenvolvesse consciência corporal, emocional e autonomia. Que tivesse atividades sobre problemas atuais dos quais ela terá que enfrentar: aquecimento global, falta de água, poluição, conscientização sobre alimentação, meio ambiente, política, guerras e conflitos que tiram vidas diariamente. Que a escola fosse um lugar para contribuir com a formação de um ser humano que irá enfrentar o mundo e todas as suas dificuldades.
Muito mais importante que um diploma que “mede a sua capacitação” por ter tirado notas azuis, precisamos ter pessoas prontas para mudar o mundo.
Eu posso até não ser boa em matemática, mas isso me torna menos importante e incapaz? Alguém que é fera com números, mas não tem tanta habilidade para se expressar é inferior de alguma forma? Não, pois todos nós nos completamos.
Portanto, vamos brigar por uma educação de qualidade, sim! Que realmente incentive as crianças e as ajude a visualizar suas potencialidades. Que deixe claro que todos são únicos e indispensáveis.
Vamos nos irritar se quiserem tirar matérias vitais e permanecer nesse sistema que diminui e padroniza pessoas. Não deixem de se manifestar, não deixem que escravizem pensamentos e aniquilem a esperança de um futuro digno para nossos filhos.
Desculpe o transtorno, meu cerébro dislexo precisava se manisfestar.