Ontem foi um dia de muito aprendizado e reflexão, tive o grande prazer de comparecer no evento da revista da Adriana Chiari e assistir as paletras da Jornalista, escritora e socióloga Ana Cardoso, da Midwife e Doula Suzan Correa e do também jornalista, escritor e comunicador (marido da Ana) Marcos Piangers.
É tão bom quando acontecem esses encontros e temos a oportunidade de ouvir experiências de outros pais que sabem se comunicar, aprender sob uma outra perspectiva, que às vezes está na nossa frente mas não percebemos, ou porque não temos a sensibilidade de ver ou por falta de tempo para prestar atenção. Vou escrever um pouco de cada palestra. Espero que possa transcrever em pouco espaço o que foi passado, obviamente de forma resumida, só quem estava lá que teve o privilégio de captar cada momento =)
ANA CARDOSO

Ana contou em detalhes como começou sua jornada como uma feminista, disse que só depois de visitar uma área rural, para fazer seu projeto final do mestrado de sociologia, e se deparou com o machismo em seu mais alto grau (em que as mulheres não podiam nem dar opinião) é que percebeu o quanto o feminismo era necessário em nossa sociedade.
Explicou sobre como o machismo afeta a vida das mulheres mães, que se veem em uma situação de exaustão e, muitas vezes, não podem contar com seus parceiros por não entenderem que as tarefas da vida em conjunto e de pais devem ser divididas igualmente. Falou que para as mulheres a maternidade é compulsória, que não temos opção de dizer que não queremos ficar sem dormir ou cuidar dos filhos, já para os homens a situação é diferente, há uma maior “aceitação” para os que decidem que não serão bons pais, já que a mãe sempre estará lá, “cumprindo seu papel”.
Em sua opinião toda essa desigualdade nos é empurrada “goela a baixo” através de uma mídia tendenciosa que expõe a mulher como objeto e submissa. Deu exemplos com alguns comerciais, que inclusive, viraram alvos de campanhas feministas e botaram em pauta o assunto na mídia e redes sociais.
Incentivou que nós mulheres também devemos questionar nossos companheiros a fazerem parte da rotina da casa, lembrou que é importante também responsabilizá-los pelo dia-a-dia: ” E aí, amor? O que tem pra jantar hoje?”. Inverter o papel e bater o pé. Brincou dizendo que o Papai Pop se construiu através desse método.
Se mostrou como uma mulher segura que alcançou o equilíbrio entre carreira, vida de mãe/esposa e vida social. Tive o deleite de conversar com ela no intervalo das palestras. Foi muito simpática e firme em suas convicções. Disse que sua filha foi destaque nas aulas de matemática e estava muito orgulhosa disso, falou que deveríamos incentivar mais nossas meninas nas matérias de exatas para que possam cumprir papeis tão importantes como dos homens, que em sua grande maioria, dominam as áreas de ciências e tecnologia.
SUZAN CORREA

A Suzan trabalha como Midwife e Doula em Londres e nos deu uma aula sobre a importância da presença paterna durante a gravidez e o parto. Ela citou tantos dados e fatos relevantes que no final da sua palestra pedi a ela que me cedesse gentilmente sua apresentação para que pudesse fazer um post bem detalhado sobre isso depois. Enquanto isso não acontece vou resumir alguns pontos que ficaram marcados para mim.
Ela falou da dificuldade de alguns homens em se aproximarem de suas companheiras grávidas e se verem como pai já na gestação. Que para certos homens, eles só se enxergam como pais quando pegam o bebê o colo. Porém devem ficar atentos ao vínculo que se inicia antes do nascimento. Fetos já reconhecem a voz do pai (a partir da 24 semana) e este se torna mais uma referência de segurança, além das mães. Inclusive, crianças que contam com uma presença participativa dos pais na infância tendem a apresentarem um desenvolvimento cognitivo superior.
Disse que a presença dos pais na sala de parto é essencial, especialmente para a mulher, que está passando por um momento muito delicado que envolve, medo, dor e insegurança. O pai deve ser a figura que prestará apoio e será o maior incentivador para que a mulher tenha um trabalho de parto mais tranquilo. Contou que muitos homens não estão preparados para esse momento e alguns até se negam a entrar na sala de parto.
Mencionou que uma história em que o rapaz disse a ela que não queria ver sangue e por isso não assistiria. Felizmente ela o convenceu dizendo que o parto não é esse bicho de sete cabeças, onde há sangue para todo lado. Em outro caso narrado por ela, o homem desmaiou ao ver a mulher evacuando na hora da expulsão (o que é super comum em partos normais).
Essas histórias me fizeram questionar o despreparo e a fragilidade masculina, que se julgam o sexo forte kkkkk
Falou também que os homens costumam ficar com medo de fazerem sexo durante a gestação e que são sempre eles que perguntam nas consultas se está liberado. Ela deixou claro que sexo na gravidez é super bem-vindo (com exceção em gravidez de risco) e não há motivos para preocupação.
Também citou que quando há necessidade de fazer uma cesárea e a mãe não pode fazer o contato pele a pele com o bebê logo após o nascimento, ela sugere que o pai o faça. Que esse pequeno gesto gera muitos benefícios para o bebê como equilibrar temperatura corporal e batimentos cardíacos.
Enfim, quando ela me passar os slides prometo fazer um texto mais aprofundado sobre isso! =)
MARCOS PIANGERS

Este é um verdadeiro showmen! Sua energia contagia toda a plateia e você ri do início ao fim da palestra. Ele consegue reunir emoção, risadas, lágrimas e aprendizado em poucas frases.
Usando gírias e falando de forma bem descontraída, Marcos capta a atenção de todos e transmite uma mensagem muito bacana: pais precisam se preparar para serem pais, precisam entender que eles também são tão responsáveis pelos os filhos quanto as mulheres, devem valorizar suas companheiras e compreender pelo o que elas passam quando se tornam mães. Pelas mudanças de vida (que são muito mais marcantes que as dos homens), mudanças hormonais, psicológicas e físicas.
Ele fala que os homens, desde pequenos, crescem ouvindo que vão arrasar corações, namorar todas as garotinhas e com isso são marcados com esse estereótipo, perdem o respeito pelas mulheres e não dão o devido valor. Na hora de assumirem algum compromisso, como o de serem pais, não se sentem preparados, ficam amedrontados. Complementa o assunto com uma ótima reflexão: Meninos praticamente não ouvem dos seus pais que quando crescerem se tornarão bons pais. Pura verdade!
Conta que se tornou um bom pai não pela ausência do seu (o pai dele não assumiu a gravidez de sua mãe), mas sim pelas grandes mulheres que o acompanharam durante a vida: sua mãe e esposa e filhas.
Morri de rir com a história do parto da sua primeira filha, Anitta. Ele conta que dizem que aquele será o dia mais lindo da sua vida, mas é pura mentira.
Ele diz que entrou na sala de parto e os médicos pegaram uma faca, cortaram a barriga da Ana e arrancaram a bebê enraivecida, toda ensanguentada, cheia de gosma branca. Perguntou a Suzan o nome daquilo e quando ela respondeu “vernix”, ele disse: “Mano, essa coisa tem nome de Pokemon!” kkkkkk
Depois de tirarem a bebê, a tacaram pra trás e a enfermeira a capturou no ar (um drama muito bem colocado, porque realmente pela forma que os profissionais pegam seu filho e tratam aquele momento com indiferença e insensatez essa é a sensação) e que tudo era um cenário de filme de terror!
Contou algumas histórias de suas filhas e deixou bem claro como se sente especial por poder viver esses momentos únicos ao lado delas, de como ele aprende por estar presente, de como é vital que possamos nos desligar da tecnologia e olhar nos olhos de nossos filhos para que não percamos a oportunidade de viver um pouco de magia; afinal a mágica só acontece quando estamos envolvidos. Que nossos filhos nos presenteiam com sua inocência, com um olhar diferenciado sobre o mundo, um encantamento que já perdemos há tempos.
Também tive o privilégio de trocar poucas palavras com ele no final e surpreendente! O cara é muito MANEIRO, sério! Aquele tipo que você quer sentar e conversar por horas, quer ter como melhor amigo!
Ele disse que depois bateríamos um papo e vou cobrar! Quero fazer um post sobre a história dele e me aprofundar sobre a linda mensagem que ele tem pra passar. Segundo Marcos, seu objetivo é se tornar obsoleto. Ele quer ir fazer uma palestra onde só se encontrem 3 pessoas das quais não entendam o que ele está dizendo. Ele quer que todos os pais se tornem presentes e isso seja rotina, banal e não sobressaia mais em nossa sociedade. Que sonho, hein?
Marcos, estou torcendo pra você alcançar seu objetivo e pode contar comigo pra ajudar nessa missão!