No Brasil não se vive nitidamente as quatro estações, pelo menos no Rio de Janeiro, onde eu morava, apenas presenciamos (na pele) o Verão. Morar fora me proporcionou visualizar, de fato, a rotação da terra. Sim, estamos em movimento, assim como a vida.
Gosto de comparar essa experiência de sentidos com a maternidade, afinal, as estações carregam sensações diferentes, momentos bons, complicados e nos enchem de esperanças a cada mudança.
Em Londres, o Outono é a estação mais bonita na minha opinião. Pisar nas folhas secas e ver as crianças encantadas com os formatos e cores no chão é mágico. As diversas tonalidades de amarelo e marrom me transportam no tempo, me sinto em um cenário de filme, é uma época, que a meu ver, sinaliza saudade. Na maternidade, a saudade é uma constante, né? Olhamos nossos filhos e pensamos: “como passou tão rápido?” Lembramos das dificuldades com orgulho e das alegrias com nostalgia.
Após o outono chega o inverno, uma época fria,de reclusão, cinza, não há muita cor e isso influencia diretamente no humor das pessoas. Sair na rua com crianças fica mais complicado, vivemos fugindo de resfriados e doenças, os parques ficam vazios e é uma estação que denomino de “solidão”.
Por um período, ainda mais o inicial, ser mãe é se sentir um pouco só, concordam? Há um afastamento natural, é necessário evitar lugares tumultuados, fechados, estar atenta aos detalhes, pois você está se adaptando à novas sensações, hormônios e a responsabilidade de cuidar de uma vida frágil. Em outro país então, a tarefa é ainda mais difícil, não há companhia da família, nem amigos de infância. Em uma comparação estação-maternidade em outro país, diria que o puerpério é um inverno intenso em Londres.
Porém, como na vida nada dura para sempre, logo surgem as flores da primavera para alegrar nossos dias novamente. As casas enfeitam suas sacadas com cores e cheiros que se misturam e transformam uma simples caminhada pelas ruas em um passeio turístico. Uma transição gostosa de se vivenciar, por isso chamo a estação das flores de “esperança”. Um período do qual renovamos nossos pensamentos, nos enchemos de energia e sentimos mais força que nunca para realizar sonhos e enfrentar as próximas batalhas.
Como mãe eu acredito que essa fase se caracterize a cada momento de dificuldade que precisamos enfrentar e no final saímos vitoriosas. Cada salto crescimento, cólicas intermináveis, arrotos na madrugada, cada doença, noites mal dormidas, desfralde, desmame, retirada da chupeta, “terrible twos”, entrada na adolescência e toda sua incompreensão e o que mais vier pela frente. Há luz no fim do túnel, há flores depois do inverno.
Fechando as estações de Londres com esplendor, entra o verão, um período em que não há pudor. Mostram-se pernas, colos, braços à vontade. Aqui não existe julgamento, cada um veste o que quer. Festivais acontecem por toda a região levando música, comida e diversão, as pessoas se reúnem nos parques e fazem pic nics até tarde. As manhãs e noites quase se confundem com o sol nascendo às 4:30 da manhã e sumindo só às 10:30 da noite.
Em dias bem quentes, você até se sente de volta ao Brasil! Relembra o que é suar, usar sandália e sair apenas de short e camisa de alça, porém, com a sensação de lugar perfeito, pois há segurança, funcionalidade nos transportes que te levam de uma ponta a outra da cidade e estrutura de forma geral. Enfim, cria-se um ambiente de felicidade, temporariamente esquecemos do inverno e vivemos intensamente aquela alegria. Um mundo que parece ser um conto de fadas; que não existe, mas por aquele período se acredita nele e se é verdadeiramente feliz.
E assim eu encerro a última ligação entre estações em Londres e maternidade; nós mães, do mundo real, não vivemos em um conto de fadas como muitas pessoas descrevem o “ser mãe”; simplesmente porque ser mãe envolve entrega, dedicação e trabalho árduo que muitas vezes acompanha frustração, tristeza e cansaço extremo.
Contudo, não há maior felicidade do que ver seu filho sorrir; vê-lo crescendo realizado, se desenvolvendo, te seguindo como exemplo. A maternidade te proporciona viver um amor puro, genuíno, por isso, ser mãe é melhor definido como “VISITAR o conto de fadas”.
Assim como o verão te aquece por uma estação e traz calor e alegrias, também convivemos com o inverno, que cultiva alguns monstros em nossas rotinas e nos faz querer se esconder sob edredons.
No final das contas, como o esperado, o mundo continua girando e nos momentos caóticos, ao invés de falar: “Para que eu quero descer”, aprendemos a pausar e respirar fundo, é desespero seguido de evolução: “Para que eu quero gritar… Ok pode continuar”.
Aprendemos a admirar todas as estações, a maternidade é mais uma grande oportunidade de entender que a vida é feita de visitas.
Por Thais Braga