Tava com saudades dos relatos de partos pelo mundo! Hoje vou compartilhar a história da Debora Blum, ela teve a experiência de um parto normal/natural e uma cesárea. Confiram.
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Moro em Lauenburg, norte da Alemanha. Aqui o seguro de saúde paga um curso pré e pós-parto. Todos são a favor do parto normal, e cesarianas só são feitas em casos de necessidade, ressaltando que, em alguns casos, as mães pedem por uma cesariana por medo ou qualquer outro motivo e estas estão sendo feitas, mesmo a contragosto de muitos médicos.
Eu tenho dois filhos o Caetano de seis anos e o Benjamin de 2.
Eu tinha 29 anos quando o Caetano nasceu, no dia 20 de julho de 2010. Aqui na Alemanha quem faz o parto são as parteiras, ou doulas como chamam no brasil agora.

Pode-se ter a criança em casa ou no hospital. Acredito que existam casa de partos, mas não conheço nenhuma. O ginecologista, normalmente não acompanha o parto.
No começo foi bem estranho pra mim, mas depois eu aprendi e vivi na experiência dos partos e cursos que as parteiras aqui são realmente preparadas para isto.
Bom, o dia previsto para o Caetano nascer era o dia 10 de julho e até ali eu não tive contrações, motivo pelo qual eu tinha que ir a cada dois dias no ginecologista para escutar o coração do bebê e verificar se já existiam contrações. Como meu ginecologista sairia de férias no dia 20 de julho eu tive que ir para o hospital para verificar se estava tudo bem. Não fazia 15 minutos que eu estava com o aparelho de CTG ao redor da barriga e a parteira achou algo estranho. Ela me deitou na cama e chamou por um médico. A única coisa que pensei nessa hora foi: ” fica calma, se tu ficar calma o nenê também fica”.
Depois de um tempo o médico me explicou que os batimentos cardíacos do nenê tinham baixado para 68 por minuto, mas que em segundos voltaram ao normal, então eles iriam fazer um ultrassom. Foi assim que descobri que a minha placenta estava calcificada, ou seja, não alimentava mais o nenê, e ele teria que nascer naquele dia de qualquer jeito.
Fui para sala de parto, liguei para meu marido e nesse meio tempo já me deram a primeira pílula para induzir o parto. Meu marido chegou, nós conversamos, lemos, eu andava de um lado para outro e nada.
Resolvemos ir almoçar e depois do almoço me deram mais uma pílula. Não demorou muito e vieram as primeiras contrações. A parteira controlava todo momento o CTG. Como minha bolsa não estourava foi ela quem fez isto.
Sempre tinha alguém por perto de mim, a parteira, um médico assistende ou médico, além do meu marido, mas, na sala ao lado estava acontecendo um outro parto, então as pessoas do hospital entravam e saiam o tempo todo. As contrações foram super fortes, desde o começo, pois quando o parto é induzido a “coisa” toda funciona um pouco diferente.
Eu já conhecia todos que estavam trabalhando naquele momento, mas meu marido não, pois ele não estava lá desde o começo, e foi assim que aconteceu a parte hilária do parto. Lá pelas tantas entra uma mulher na sala de parto, olha o CTG, me olha, tira meu pulso e não fala nada, mas eu sabia que ela era médica assistente. De repente eu percebo que meu marido sai da sala, ele volta e nesse instante toca um telefone, a médica atende o telefone e fala assim: ” o que? Não, eu estou aqui com ela agora. (…), sim, eu estou na sala de parto, sim, com a senhora Blum-Timm, está tudo bem, ainda não está na hora”.
Ela desliga o telefone, olha pro meu marido e pergunta:”o senhor acabou de ligar para emergência”? Ele:”sim”! Dai ela se apresentou pra ele e explicou que ainda iria demorar para o nenê nascer que ele não se preocupasse.
Depois de tudo acabado ele me explicou que ele estava apavorado e não sabia quem ela era e saiu da sala e ligou para o 112, número da emergência na Alemanha e falou que eu estava dando à luz e ninguém ajudava. Sim, podem rir agora.
Bom, depois disso o negócio começou a ficar sério, eu já estava quase 3 horas em trabalho de parto, o nenê com a cabeça encaixada e não saia. Eu tinha feito agachamentos, rodado, ficado em pé, de cócoras, tudo que me mandaram. Então foi a médica chefe. Quatro pessoas estavam na sala de parto, tentaram empurrar o nenê, “esmagando” minha barriga com um pano enrolado nela e uma pessoa puxando a ponta do pano de um lado e a outra do outro lado. Não funcionou. Então a parteira olhou pro meu marido e disse que não daria tempo de assinar nada mas que ele teria que concordar com o que ela fizesse e que a responsabilidade era nossa caso acontecesse algo e ele somente concordou.
Foi então que ela praticamente subiu em cima da minha barriga e apertou três vezes. Nada! Então eu só percebi que a médica pediu algo para alguém e todo mundo começou a agir muito rápido. Eu só pedia à Deus que não fossem fazer uma cesariana e eu fiquei bem quieta, só abria a boca pra gritar quando a contração vinha.
A médica colocou uns suportes na cama, pediu que eu me aproximasse do fim da cama e colocou minhas pernas nesses suportes, tipo quando se senta em cadeira de ginecologista. Foi então que eu percebi que ela estava introduzindo algo na minha vagina. Era um fórceps. Até então eu não havia entendido o que estava acontecendo pois não sabia o nome do fórceps em alemão. Nesses casos, quando a criança é tirada com fórceps então é feito por um médico e não pela parteira.
Daquele momento em diante foi tudo muito rápido, na contração seguinte eu senti algo estranho, parecia que minhas pernas estavam ardendo, eu perguntei porque e a médica disse:” metade da cabeça já está fora, na próxima contração ele vem”.
Ninguém pode imaginar a minha alegria já neste momento. E foi só o tempo do meu coração disparar de emoção que a contração veio e com ela meu nenê estava no meu peito. Todo encolhidinho, chorando, se aconchegando em mim e eu nele. Eu só conseguia dizer:” ele está aqui, ele está aqui”. Nesse momento, nesse minuto, segundo, não sei quanto tempo foi, eu esqueci de tudo. Eu esqueci do mundo, parecia que nada mais existia, só eu e ele. Nós éramos dois, mas éramos um só. Nossos corações batiam juntos.
Ah, foi um parto sem anestesia, foi lindo, foi emocionante.
Depois eu descobri que eu tenho um defeito nos ossos da bacia e me explicaram no hospital que era quase improvável um nenê nascer normalmente em função deste defeito que eu tenho.
Quando eu engravidei pela segunda vez eu já estava com a certeza de que teria que fazer uma cesariana. Mas, lá no fundo eu tinha esperança de um parto normal. Eu não queria fazer cesariana. A gravidez transcorreu normalmente, mas o nenê era bem maior e mais pesado que o primeiro. O dia previsto para o parto era 22 de janeiro, mas no dia 2 de janeiro eu acordei sentindo umas dores e achei melhor ir para o hospital, pois como eu não sabia como eram contrações “normais” eu fiquei na dúvida do que estava acontecendo.
No hospital fizeram um CTG e um ultrassom. Foi então que o médico viu que meu filho era grande demais para um parto normal, por causa do meu defeito na bacia. Então ele recomendou que eu marcasse uma cesariana. Naquele dia o nenê não iria nascer, as dores eram as chamadas “contrações de treino”, que podem ou não acontecer no fim da gravidez.
14 dias depois fui novamente no hospital para conversar com o médico e marcar a cesariana. Como sou alérgica a medicamentos usados em anestesias locais eu teria que fazer uma anestesia geral, o que me deu um pavor muito grande, não pela anestesia, mas por saber que eu não estaria acordada quando meu bebe nascesse.
Então o médico me explicou que se fosse possível o pai estar junto o nenê iria direto para o colo do pai, assim que nascesse, me explicou também que no dia 22 já estavam agendadas outras cirurgias e que eles dão preferência para cesarianas em dias calmos, quando a equipe médica pode dar atenção total a paciente e então a cesariana foi marcada para o dia 27 de janeiro.
Mas quis o destino, a vida, Deus ou o bebê, que no dia 22, dia previsto para o nascimento, eu acordasse com contrações. Chegando no hospital eu já estava com um centímetro de dilatação. Depois de alguns exames o parto estava previsto para depois das 17 horas. Eu não deveria comer nem tomar nada, mas isto não me preocupava, eu só queria que tudo desse certo, que acabasse logo. Por volta das 14 horas a equipe médica estava pronta e o parto poderia ser feito mais cedo. Me prepararam para cirurgia e a parteira segurou minha mão até a anestesia fazer efeito. E então, enquanto eu dormia, meu bebê nasceu. Eu fui vê-lo quase três horas depois. Lá estava ele, deitado no peito do meu marido. Me lembro direitinho, como se tivesse acontecido agora. A emoção de vê-lo, senti-lo, pegá-lo foi tão grande quanto a do primeiro filho, mas ainda assim guardo uma tristeza por ter tido que fazer uma cesariana. Porém, naquela hora o importante era estarmos bem. E estávamos!
Ah, aqui também tem parte hilária do parto. Eu estava deitada, anestesiada ainda e escutei uma voz:” senhora Timm, acorde. Tem um bebê esperando pela senhora”, era a enfermeira. Mas na minha cabeça eu pensei o seguinte:” bebê? Que bebê? Essa mulher é louca, o que ela quer de mim? Tá me confundindo com outra!” Hahaha sim, eu estava em outro mundo! Demorou um pouquinho mas eu captei a mensagem.
Agora, uma coisa eu posso dizer, as equipes do hospital foram ótimas, tanto em um parto como no outro mas, de livre e expontânea vontade eu nunca faria uma cesariana. A dor do parto normal pode ser forte, mas as dores pós cesariana foram as piores que senti na minha vida. Pode ser que foi comigo, mas depois que eu tive o Caetano eu logo levantei, ia passear com ele pelos corredores da parte da maternidade, me senti super bem. Depois da cesariana eu não conseguia nem me mexer na cama, por isso, não recomendo.