O ano é 1912: Titanic, o navio mais luxuoso do mundo, “inafundável”, naufraga. Dos seus 2200 passageiros, em torno de 1500 sobrevivem. Na lista dos mortos, pessoas da terceira classe e tripulação (pessoas que trabalhavam no navio) aparecem majoritariamente.

O ano é 2023, um submarino luxuoso (teoricamente), recheado com 5 pessoas ricas, imerge nas profundezas do oceano atlântico em busca dos destroços de Titanic: a embarcação que afundou com os pobres dentro e ficou famosa por causa de Hollywood, Leo Dicaprio e Kate Winslet.  

Os bilionários curiosos do submarino pagam 250 mil dólares para ver com seus próprios olhos a história se desfazendo entre algas…….

E claro, poder reviver o amor ficcional de Rose and Jack. Quem sabe, se por sorte, terem a chance de avistar a joia que a senhorinha do meme do “já faz 84 anos”, Kate Winslet velha (ou Rose, não sei mais distinguir), lança ao mar em memória ao seu amado Jack, Leo dicaprio, passageiro da terceira classe, que afundou congelado devido a falta de espaço na porta flutuante em que Rose (dama da primeira classe e não + que 23 anos, caso contrário Jack não se importaria em brigar por um espaço ali) se abrigava. 

O submarino luxuoso submerge e some. Os jornais vão ‘a loucura. Equipes de busca de vários países se mobilizam para uma missão quase impossível. Uma contagem regressiva do oxigênio restante é acompanhada com aflição por todo o mundo. 

Corta a cena pro mar mediterrâneo: O ano ainda é 2023. Um barco de pesca caindo aos pedaços, com 750 imigrantes, tenta atravessar o mar revolto entre Oriente médio e Itália. O motor quebra perto da costa Grega. As autoridades estão cientes do problema. Discute-se se há ou não necessidade de fazer resgate: “ Não houve pedido de ajuda oficial”, eles disseram. A questão que impera: “quem abrigará esse ‘Zé povinho’?”

Nesse meio tempo o barco vira. Em 15 min naufraga. Por enquanto, dos 750 passageiros, temos 78 mortes confirmadas e 100 resgatados com vida. Estima-se que 100 crianças estavam viajando. 

No final das contas, só para o mar que classe social não faz diferença. Seja bilionário, seja desprivilegiado, todos afundarão do mesmo jeito. 

Uma coisa é certa: se a ajuda para o barco pesqueiro tivesse sido disponibilizada com a mesma rapidez da ajuda fornecida para o submarino, teríamos 750 pessoas resgatadas. 

As notícias de amanhã serão: “RIP submarino com 5 homens exploradores corajosos que morreram em nome da história e da ciência.”

Enquanto do outro lado do oceano, os imigrantes constarão apenas como números incômodos, em uma planilha com fórmulas prontas, que contabiliza tragédias esquecíveis. 

Sem dúvida, somos os náufragos da superfície.

Por Thais Braga

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